6 de agosto de 2008

Avaliação das ameaças: como entendê-las em profundidade

por Enrique Eguren y Marie Caraj
Site: Protectionline

A repressão contra os defensores dos direitos humanos se baseia sobretudo na psicologia. As ameaças são uma moeda comum para fazer com que os defensores se sintam vulneráveis, ansiosos, confusos e impotentes. Em última instância, a repressão também pretende quebrar as organizações e fazer com que os defensores percam a confiança em seus dirigentes e companheiros. Por isto os defensores devem ter muito cuidado para conseguir lidar com as ameaças ao mesmo tempo em que tentam manter uma adequada sensação de segurança no trabalho diário. Este é também o principal objetivo deste capítulo.

Definimos as ameaças como “a possibilidade de que alguém cause dano à integridade física ou moral ou à propriedade de outra pessoa através de uma ação intencionada e geralmente violenta”. Também falamos sobre possíveis ameaças (quando um defensor próximo a seu trabalho é ameaçado e existem suspeitas críveis de que você poderia ser o próximo), e ameaças declaradas (receber uma ameaça de morte, por exemplo). Agora veremos como lidar com as ameaças declaradas.

Uma ameaça declarada é uma declaração ou o indício de uma intenção de infligir dano, castigar ou ferir, normalmente com a intenção de alcançar um objetivo. Os defensores dos direitos humanos recebem ameaças devido ao impacto que tem seu trabalho, e a maioria das ameaças têm como objetivo ou paralisar o que estejam fazendo o defensor ou ainda forçá-lo a que faça alguma coisa.

Uma ameaça sempre tem uma origem, quer dizer, a pessoa ou grupo que foi afetado pelo trabalho do defensor e que articula a ameaça. A ameaça também tem um objetivo que está vinculado ao impacto do trabalho do defensor, e uma forma de expressão, isto é, como ela chega ao defensor.

As ameaças são complicadas. Poderíamos afirmar com certa ironia que as ameaças são «ecológicas», porque pretendem obter o maior resultado com a menor energia. Uma pessoa que ameaça decide ameaçar antes de entrar em ação – um maior uso de energia. Por quê? Existem várias razões, e vale a pena enumerá-las:

A pessoa que ameaça tem a capacidade de atuar, mas o preocupa em certo modo o custo político de atuar abertamente contra um defensor dos direitos humanos. As ameaças anônimas podem ser feitas pela mesma razão.
A pessoa que ameaça tem uma capacidade limitada de atuação e pretende lograr o mesmo objetivo, escondendo sua falta de capacidade atrás de uma ameaça. Esta capacidade limitada poderia ser somente temporal devido a outras prioridades, ou permanente, mas em ambos os casos, a situação poderia mudar e levar mais adiante a pessoa a realizar uma ação direta contra o defensor.

Uma ameaça é uma experiência pessoal, e sempre produz um efeito. Em outras palavras, as ameaças sempre afetam as pessoas de uma maneira ou outra. Numa ocasião, um defensor afirmou que “as ameaças conseguem exercer algum efeito, inclusive o simples fato de que estamos falando sobre elas”. De fato, qualquer ameaça pode causar um impacto duplo: emocionalmente e em termos de segurança. Aqui nos concentraremos na segurança, mas não devemos esquecer o aspecto emocional de toda ameaça.

Sabemos que a ameaça está com freqüência relacionada com o impacto de nosso trabalho. Portanto, a ameaça representa um indicador de como o trabalho está afetando a outra pessoa. Vista sob esta perspectiva, uma ameaça representa uma fonte de informação muito valiosa, e deveria ser analisada cuidadosamente.

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