Em São Paulo
Na análise do Ipea há dois aspectos a destacar. O primeiro é que os valores talvez não sejam suficientes para retirar esse contingente do "mercado de trabalho". Outro fator que pode minimizar os efeitos de programas como o Bolsa Família "é a falta de penalidade quanto ao não cumprimento das condicionalidades, o que pode resultar em crianças recebendo o programa e continuando a trabalhar", aponta.
Crianças sustentam a casa
Segundo dados do Ipea, em 36% das famílias, a contribuição das crianças que têm rendimento e não freqüentam a escola varia de um terço a 100% da renda familiar.No entanto, essa importância na composição do orçamento familiar cai para 7% em famílias que têm crianças trabalhando e freqüentando a escola.
As crianças que apenas trabalham também ganham mais, cerca de R$ 226 por mês. Aquelas que estudam e trabalham conseguem alcançar R$ 151. Em 2007, se a família estivesse em situação de extrema pobreza e tivesse três filhos menores de 15 anos, poderia receber do Bolsa Família no máximo R$112 por mês.
Políticas públicas
Na avaliação dos técnicos do Ipea, são positivos os resultados de programas que "premiam as famílias pobres que colocam os filhos na escola e não os colocam no trabalho ou os retiram deles", caso do Bolsa Família. A transferência de renda é especialmente importante para famílias que dependem da renda das crianças proveniente do trabalho infantil.No entanto, segundo o Ipea, alguns estudos "mostraram que o benefício recebido pelas famílias resultou em elevação significativa da freqüência escolar, mas a redução do trabalho infantil não foi tão expressiva".
Há algumas evidências de que esse tipo de política reduz o número de horas mensais de trabalho das crianças, mas os resultados não são conclusivos ou não há efeito sobre a redução do trabalho infantil.
De acordo com a Pnad 2007, crianças de 7 a 15 anos trabalham em média 20,1 horas por semana quando estudam e 35,3 horas quando não freqüentam a escola. Enquanto 55% das que não vão à escola exercem atividades por mais de 40 horas por semana, 11% das que vão à escola dedicam esta quantidade de tempo ao trabalho.
Números desanimadores
Divulgada em meados de setembro, a Pnad trouxe números desanimadores no que se refere a trabalho infantil. Em 2007, ainda existiam 2.500.842 crianças - com idade entre 5 e 15 anos - trabalhando. Esse contingente significa 6,6% da população dessa faixa etária. Ou seja, num grupo de cem crianças, cerca de seis delas trabalham.Dentro desse grupo, cerca de 20 mil não estudam, apenas trabalham. O Ipea faz uma comparação: "equivale a cem aviões lotados de crianças iguais ao que explodiu ano passado no aeroporto de Congonhas, em São Paulo". E outras 62.521 delas não estudam nem trabalham.
Para os especialistas, "é interessante observar que analisando esses dados ao longo do tempo, nota-se que a porcentagem de crianças que só estuda vem aumentando, e a proporção de crianças que estuda e trabalha vem se reduzindo, mas a porcentagem de crianças que só trabalha praticamente não se altera".