15 de junho de 2009

Segurança no trabalho é deficiente no Grande ABC


Michele Loureiro
Do Diário do Grande ABC
Nos primeiros quatro meses deste ano, o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) concedeu 3.203 benefícios de auxílio-doença em decorrência de acidentes de trabalho na região. São Bernardo, que concentra a maioria das montadoras - Volkswagen, Scania, Mercedes-Benz e Ford -, lidera o rankig com 1.018 ocorrências.
Para o diretor de Saúde e Meio Ambiente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Mauro Soares, as condições de segurança são falhas na região. "Menos de 2% das máquinas e equipamentos das montadoras são protegidas com sistema de segurança adequado no Grande ABC", afirmou.
O perfil de boa parte dos metalúrgicos acidentados na região concentra jovens entre 18 e 25 anos, que na maioria das vezes sofrem acidentes nas mãos. "São cortes e em alguns casos há amputação de dedos. Isso acaba com a vida profissional do trabalhador, sem contar nos traumas psicológicos imensuráveis", destacou o diretor.
O exemplo do funcionário da GM (General Motors) de São José dos Campos, que morreu, na semana passada, ao ser atingido por uma máquina de 700 quilos enquanto trabalhava, preocupa o diretor.
Para ele, os "pequenos acidentes" são indicativos de que algo vai errado com a segurança. "As montadoras não costumam dar atenção aos cortes e lesões leves, mas eles são indicativos de que algo maior e catastrófico está prestes a acontecer, como no caso da GM", explicou Soares.
Um dos principais problemas, que segundo o diretor poderia ser solucionado sem altos investimentos, é a demarcação de tráfego de empilhadeiras. "Temos inúmeros casos de trabalhadores atropelados pelas máquinas. Isso poderia ser corrigido com a instalação de faixas especiais", declarou.
Soares afirmou que algumas empresas chegam a procurar o sindicato para tentar se adequar às normas de segurança, mas são raras exceções. "A fiscalização é falha. Somos regidos por normas do Ministério do Trabalho e Emprego e da vigilância sanitária de cada município; mesmo assim, falta eficiência nesse processo", declarou.
A vigilância sanitária dos municípios de São Bernardo e São Caetano, cidades que sediam as montadoras na região, declararam que o sistema funciona por denúncias. Ou seja, é preciso que haja acidentes para que seja realizada a fiscalização.Pressão - Para Maria Maeno, médica e pesquisadora da Fundacentro - entidade governamental que atua em pesquisa científica e tecnológica relacionada à segurança e saúde dos trabalhadores -, a exigência por aumento de produção provoca a maioria dos acidentes.
"Mesmo sendo incostitucional, muitas empresas desativam as normas de segurança para acelerar a produção. O trabalhador fica encurralado entre a segurança e a garantia de emprego", explicou.
A pesquisadora afirmou que, em tempos de crise, a pressão aumenta. "Com a onda de demissões, o trabalho continua o mesmo. É preciso dar conta da produção e a proteção no ambiente de trabalho acaba ficando em segundo plano", finalizou. (Colaborou Bárbara Ladeia)
Volkswagen não aceita atestados médicos externos
Assim como na GM, trabalhadores da Volks, em São Bernardo, reclamam da dificuldade de conseguir os equipamentos básicos de segurança.
"Mas nosso maior problema é a questão do ambulatório médico, que não tem aceitado atestados externos e vem descontando o dia dos trabalhadores com problemas de saúde", destacou o representante da comissão de fábrica, Wagner Lima.
Segundo ele, os trabalhadores estão sendo pressionados e em alguns casos, têm ido trabalhar mesmo doentes. "Como o índice de absenteísmo - número de faltas - é grande na empresa, a Volks tem complicado a situação de quem precisa faltar. Os trabalhadores se sentem ameaçados", descreveu.
"Na empresa não há crise, tanto que foram cerca de 300 contratações desde o início do ano. Mas quem precisa faltar perde o direito do sábado adicional, que traz renda extra", lembrou.
O representante afirmou que o sindicato tem conversado com a empresa, e que se nenhuma medida for tomada, há a possibilidade de paralisação.
A Volks afirmou que a segurança na empresa é questão estratégica e prefere manter o assunto em sigilo.
Após redução de custos, GM não prioriza segurançaTrabalhadores das montadoras da região reclamam da falta de equipamentos básicos de segurança, como luvas e óculos de proteção.
Segundo Rogério Manfrinato, vice-presidente da Cipa (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes) da GM (General Motors) de São Caetano, a empresa passa por processo de redução de custos e faltam equipamentos básicos de segurança.
"Luvas, aventais, capacetes e óculos de proteção, além da manutenção preventiva de acidentes, estão deixando a desejar na empresa", afirmou.
Manfrinato afirmou que depois da morte do trabalhador da GM de São José dos Campos, a montadora chamou os funcionários para uma conversa. "Não foi nada concreto, nem haverá investimentos, mas a empresa afirmou que fará um ‘pente fino'' para numerar as falhas de segurança", declarou.
Para o vice-presidente, todas as unidades da montadora precisam pressionar por mais segurança. "Pretendemos convocar uma reunião com o sindicato para tratar sobre o assunto", ponderou.Fundamental - A GM afirmou, por meio de nota, que a segurança do trabalho é uma questão fundamental para a empresa. Segundo a montadora, todos os trabalhadores recebem treinamento para o uso adequado dos equipamentos e as máquinas têm toda a proteção para eliminar eventuais riscos na operação.
A montadora afirma ainda que, diariamente, antes do início de uma jornada de trabalho, todos os empregados participam de uma reunião chamada ‘cinco minutos de segurança'', justamente para estar conscientes do trabalho que vão executar no dia a dia.
A GM declarou que a legislação a respeito da saúde e segurança no País é bastante extensa e completa, mas a empresa assegura que, em todos os aspectos, supera os índices exigidos para garantir a integridade física e saúde dos funcionários.

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